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A Coroa de Ferro


 
Ifá conta em vários odus sobre a descida das forces espirituais à Terra. Estes contos, geralmente da família de Ogunda, Ogbe e Ofun, falam sobre o desejo das forças espirituais em se juntar com a matéria, em fazer estradas na Terra.

As estradas na Terra foram feitas por Tobi Ode, cujo nome significa ‘o caçador que possui grande habilidade’. Antes de Tobi Ode e sua bem-sucedida abertura de estradas na Terra (Ikole Aye), houve outras tentativas de se limpar o terreno nas vastidões silvestres para a passagem espiritual. Ikole Orun (o reino divino) tinha o desejo de se mesclar com Ikole Aye (o reino da Terra visível e invisível). A primeira tentativa foi feita por Obatala, o Rei das roupas brancas e sonhos. Ele fez um cutelo de prata (àdá fadàkà), o metal da lua, para cortar seu caminho através da vegetação terrestre, mas a lâmina de prata se entortou e foi destruída. O senhor dos sonhos usou sonhos para cortar através da matéria e assim abriu uma via particular para o ingresso entre humanos e deuses, pelos poderes da noite e sua regente, a lua. O itan (estória) conta como Obatala conseguiu cortar sob as moitas, mas incapaz de limpar o caminho da cobertura verdejante que criava bloqueios na terra. Desde que Obatala cortou sob os arbustos, seus poderes ainda falam das raízes e solo – como nos sonhos, mas a estrada propriamente foi aberta pelo ferro. O ferro em Iorubá é ‘irin’, a mesma palavra dada aos guardiões divinos, ‘irin’. Assim, há razão para se supor que ‘irin’ (ferro) foi usado para abrir os portais aos ‘irin’ (os guardiões), e a abrir os caminhos para o congresso angelical com humanos e a Terra. (Deixe-me lembrá-lo que o Iorubá leva 30% de seu vocabulário da língua sinaíta, ‘sin’, que está na raiz de hebraico).

Como mostra o odu, esta era uma provação celestial. Osagunda fala sobre um desafio dado à Irumole (os poderes da luz que moram no céu) insinuando um concurso sobre o que o espírito poderia consertar da cabaça quebrada, isto é, o mundo como nós o conhecemos. Foi o ‘caçador hábil’ que realizou a meta, e sobre a sua realização os Orisa (os imortais) vieram à Terra e estabeleceram seus mistérios. Ao caçador foi dada a grande honra. Tobi Ode foi renomeado como Ògún e o apontado para ser um Olori (chefe), ao que ele recusou. Ao invés disso, ele foi à morada de Obatalá, às montanhas. Não levou muito tempo até que o povo lhe chamasse para restabelecer a ordem, e ele veio vestido de ariwo (folhas de palmeira), como um senhor da floresta. A primeira cidade em que ele chegou foi Ire (boa fortuna), e aqui ele lutou com todas as forças maléficas e obteve o nome de Onire, que significa ‘Chefe de Boa Fortuna’. E isto se repetiu cidade após cidade. O caminho de Ògún foi bem-sucedido até que um dia ele decidiu parar. Isso aconteceu em Ile Ife, a cidade do Amor, onde ele havia recusado a honraria concedida de ser o primeiro dentre os Orisa. Em vez de assumir a coroa da realeza, ele assumiu a coroa do seu destino, que era a coroa de irin (ferro). Seu destino era a coroa de igbo (a floresta) e, por conseguinte, ao abrir as estradas, ele dança em seus perímetros, não como rei, mas como seu capacitador. Desta forma, Ògún, o espírito do ferro, é a força que cultiva a terra, mas que ainda se mantém à distância. Como aquele que abre as estradas, ele conhece todos os mecanismos civis, mas a sua escolha, seu destino, é de ficar livre de todas estas coisas que pertencem à civilização. Mas ele pode ser chamado para resolver as questões ‘civilis’, desde é fundido com ‘naturis’, que é a perspectiva da montanha em que ele escolheu se aventurar e estabelecer sua morada.

Ògún é o filho, marcado e abençoado ao retorno, como ele fez, ele deve fazer. Mas o retorno está habilitado. E aqui reside o mistério da queda e dos anjos renegados - como pode ser visto a partir da concepção divina. É aqui que seu papel está marcado e assumido pelo seu retiro. Ase!

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