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O Cálice Envenenado

Recentemente, Robert Cochrane, Magister do Clan of Tubal-Cain, atingiu o status de ícone na Arte, e numerosas histórias circularam sobre as circunstâncias de sua morte.

A versão geralmente aceita parece ser de que ele teria se suicidado ritualisticamente usando Beladona no Solstício de verão em 1966, em um resgate da morte do Rei Divino, um sacrifício voluntarioso para a remissão de seus próprios erros, daqueles do seu próprio povo, e para assegurar a fertilidade de seu domínio. Que retrato essa idéia do ‘suicídio ritual’ de Cochrane nos traz? Talvez vejamos uma figura de túnica, prostrado no círculo ritual, lábios escurecidos, olhos fixos em alguma visão no além, dedos ainda prendendo o chifre com a bebida envenenada, para sempre paralisados? Que imagem você tem da cena?

A morte de um bruxo aparentemente automartirizado gera miríades de perspectivas contrastantes.

Algumas destas perspectivas podem servir para cristalizar um efeito altamente glamouroso que age como um veículo para o trabalho individual, enquanto outras podem ser prejudiciais ao trabalho, desviando atenção para especulações infrutíferas e, talvez, para um romantismo descabido. O intento deste ensaio é oferecer fatos com os quais o interessado em Cochrane e seu legado possa temperar suas próprias crenças sobre sua morte e suas implicações.


Pano de Fundo

As informações de Doreen Valiente, em seu livro The Rebirth of Witchcraft são as fontes publicadas mais extensas, aumentadas por comentários do leal aluno de Cochrane (mais tarde, Magister do Clan) Evan John Jones, em Bruxaria: Uma Tradição Renovada. A memória de Valiente é amável, direta em seu modo típico, tingida de nostalgia e afeto pelo homem que, logo em seguida da separação do coven de Gardner e a morte de seu líder, deu um novo e inspirador ímpeto a seu trabalho.

Valiente conheceu Robert Cochrane durante a segunda metade de 19641. Ela ficou impressionada com sua personalidade e poderosa inteligência e aceitou sua alegação de representar uma linha de bruxaria pré-moderna genuína e hereditária, tornando-se o sexto membro de seu Clã. (1989:122) Cochrane – conhecido no meio dos homens como Roy Leonard Bowers – tinha trinta e três anos de idade e vivia com sua esposa Jane e seu jovem filho Adrian em Britwell, uma área de baixa classe, uma tanto depressiva e superpopulosa, próximo a Slough, Berkshire. Seu coven havia operado por alguns anos e trabalhara rituais que, diferentemente dos de Gardner, não eram baseados textualmente, utilizando bastante movimento, dança e canto, e eram geralmente realizados ao ar livre, em bosques, às vezes mesmo em cavernas subterrâneas – sendo que escavar era um dos passatempos de Bowers. Valiente relata um encontro particularmente memorável em The Rebirth of Witchcraft. (1989:125-8)

Como o Clã, embora pequeno em número, ganhava mais e mais força em nível mágico, Bowers estava construindo seus contatos e forjando vínculos com os praticantes, incluindo o sábio de Oxfordshire e pintor da Royal Academy, Norman Gills e o magista cerimonial e cabalista, William Grey[1]. Ele foi primeiramente a público, ainda que anonimamente, com seu artigo ‘Genuine witchcraft is defended’ em 9 de novembro 1963, publicado no Psychic News, evidentemente em resposta para uma série de exposés que surgiram durante o mês de setembro no escandaloso jornal semanal The News of the World.

A morte de Gerald Gardner, em fevereiro de 1964, deixou a Arte sem um representante visível e parece que Bowers esperava entrar nessa brecha – pelo menos dentro círculos ocultistas, se não publicamente. Entre o fim de 1964 e o Verão 1965, Bowers partiu para recuperar um pouco do terreno dos covens de Gardner, cuja publicidade durante a década anterior estabelecera uma pálida imagem da bruxaria contemporânea na mente do público. O Pentagram era o órgão da recentemente fundada Witchcraft Research Association que fornecia o foro principal em que Bowers e seu colega de pseudônimo Taliesin colocaram artigos com a intenção de delinear um retrato diferente do que era a Arte e para atrair novos membros, especialmente aspirantes femininos para equilibrar o Clã, que era quase que totalmente masculino. A matéria Witches’ Esbat publicada em novembro de 1964 no New Dimensions foi evidentemente projetada com esta finalidade em mente. Infelizmente, seu método saiu pela culatra, pois ao referir-se a Gardner e suas bruxas no Pentagram com opiniões expressivamente baixas, ambos, Bowers e particularmente Taliesin, levaram às páginas de correspondências da revista muitos intercâmbios ácidos, e o resultado das hostilidades causou o encerramento da revista com uma resenha sobre bruxaria depois da quinta edição, em janeiro de 1966. A própria Witchcraft Research Association logo paralisou suas funções, aparentemente como o resultado de tramóias políticas por trás das cortinas. Valiente comenta: “Se, então, este episódio era uma oferta de poder para que Cochrane assumisse o comando da liderança da bruxaria na Inglaterra (e eu fui informada de que era), ele não foi bem sucedido. Levando em conta os problemas pessoas de Cochrane, não tenho nenhuma dúvida que isso causou a ele um pesar pessoal considerável. De fato, ele ficou desesperado para reafirmar sua autoridade sobre os seus seguidores”.  (1989: 132)

As “dificuldades pessoais” parecem ter realmente começado no período logo após Valiente se remover da órbita de Bowers, durante 1965. Ela experimentara uma crise de confiança em sua relação mágica com Gerald Gardner ao conseguir vê-lo através dos seus blefes e se cansar de seu amor pela publicidade, e semelhantemente veio a descrer das afirmações de Bowers sobre sua proveniência hereditária. Além disso, ela se recuou da hostilidade crescente a outros covens e, talvez especialmente pela hostilidade à sua tradição de origem: “…Cochrane estava se tornando cada vez mais autoritário em sua atitude, tanto com os outros covens quanto em relação aos membros de seu próprio coven. Ele estava começando a fazer o que Gerald Gardner fez antes dele, isto é, posar como a grande autoridade. Mas ele acrescentou a isso uma característica que Gerald nunca mostrou - que é uma tendência a ameaçar qualquer um que se opusesse ou até o questionasse... Pareceu-me que existia espaço para modos de trabalhar diferentemente do que os de Cochrane, quando eles estes modos estavam sendo buscados pelas pessoas sinceras e bem intencionadas. Cochrane, contudo, pensava o contrário e ameaçou a todos que ousaram diferir dele com uma temerosa e oculta vingança”[2] (1989: 128-9) Valiente finalmente entrou em conflito com Bowers sobre um comentário que ele fez sobre sua esperança por uma “Noite das Facas Longas”[3] com aqueles que ele apelidou de “Gardnerianos”. Ela imediatamente o confrontou na frente de testemunhas, e alegou que ele perdera a credibilidade nesta troca e, embora não fosse sua intenção, e isso levou a uma deterioração adicional das relações entre o Clã e seu Magister. (Ibid: 129-30)

Enquanto isso marcava o fim de seu contato pessoal e parceria de trabalho, Valiente manteve-se a par dos acontecimentos dentro do Clã através de amigos em comum: “Ele também começou um contato com um dos novos membros femininos… Isto, infelizmente, foi o que no fim quebrou o Clã de Robert Cochrane, embora não fosse a única razão para a separação. Cochrane pensou que Jean [Jane] aceitaria a situação. Eu soube que ela não iria, e não a culpei. Ela o deixou e começou o procedimento de divórcio; e em minha opinião o verdadeiro poder mágico do coven foi-se com ela.” (1989: 129) Evan John Jones vai mais adiante em sua avaliação do destino do Clã e seu Magister“A culpa pode ser firmemente colocada na porta de uma pessoa, que era uma intrusa em nosso grupo, e teria sido melhor tê-la deixado de lado. Mas o Destino decretou o contrário; e Robert Cochrane, nosso líder, que pregava que “não deveríamos brincar com a serra zumbindo”, e ele mesmo foi cortado. Isto o levou a uma separação dolorosa em seu casamento e eventualmente ao seu suicídio.” (1990:16)

Um fator que é preciso se ter em mente é a gravidade exercida no trabalho e a exploração pessoal de Bowers pelo seu dependente coven: juntamente com o papel de Magister veio a pressão da responsabilidade com o Clã, seu funcionamento e organização, assim como também a estruturação do processo de ensino e a necessidade de compor novo material. Gerald Gardner era um homem aposentado, de certa maneira, e Bowers continuava o trabalho do Clã enquanto estava em um emprego em tempo integral, vivendo em uma casa pequena, com uma esposa e filho para sustentar. Em uma primeira carta para William Grey, por volta de novembro de 1964, Bowers escreveu: “Eu estou considerando seriamente em deixar meu grupo e trabalhar sozinho. Posso soar terrivelmente esnobe, mas J[ane] e eu alcançamos uma fase onde vamos mais rápido sozinhos. O grupo está começando a nos puxar para trás, e eu gostaria de estabelecer um novo líder e seguir em frente por mim mesmo.” (2002: 70) Evan John Jones comentou: “Cochrane disse isso repetidamente, mas ele provavelmente não tinha nenhuma intenção de executar essa ameaça. Se ele fosse trabalhar solitariamente ele não seria o centro das atenções e isto o impedia de tomar aquele passo.” (ibid: 74) A dificuldade de equilibrar suas ambições pessoais – que se estendiam firmemente dentro do domínio mágico – com as responsabilidades de seus papéis como líder de coven e homem de família devem ser consideradas como elementos muito significativos, que contribuíram para o seu eventual destino. Tragicamente, Bowers tropeçou impetuosamente nas armadilhas que estão à espera daqueles que assumem a liderança de grupos mágicos; o ego inflado, infidelidade sexual, medo de usurpação e antipatia virulenta em relação à competição.

Enquanto isso fica claro, e dado o benefício da compreensão tardia, deve ser lembrado que Bowers foi um dos primeiros em nossos tempos a seguir essa trajetória, e tomou estes riscos enquanto prosseguia o caminho adiante para outros que o seguiriam.

A turbulência na vida de Bowers durante seus últimos meses e seu crescente isolamento pode ser medido por uma carta muito pungente, escrita a Norman Gills (não datada, somente com abril de 1966); Gills era um praticante estabelecido e independente, a quem Bowers podia respeitar e confiar como um confidente. “Muito obrigado pela sua carta e a significativa advertência nela… agora estou sem o John – sem a A.[4], sem amigos, e trabalhando por mim mesmo até que alegremente. É surpreendente que a advertência veio na mesma semana quando o golpe final e a dor terrível caíram sobre mim. Old J.[Jane] não é uma má psíquica, desde que ela me advertiu contra a pequena A. há muitos meses atrás – e eu prestei pouca ou nenhuma atenção. Então eu aprendi. É claro que estou no final de uma fase – e sendo como você, um homem sem nenhum destino verdadeiro – a não ser o que nós formamos por nós mesmos – é que eu gostaria de saber aonde vou daqui. Você pode ser um amigo e dar uma olhada para mim – como você sabe, não se pode dizer seu próprio futuro exceto pelo mero vislumbre, e eu me sinto como se estivesse no fundo de um poço com pouca ou nenhuma esperança para o futuro. Se você decidir me ajudar, então eu ficaria muito agradecido, se você dissesse a mim a verdade, e não escondesse nada.” (2002: 178-9)

Bowers também disse a Gills que estava tentando se tornar um adivinho profissional, e incluiu um cartão de visitas para este efeito, acrescentando, “…embora eu tenha pouca ou nenhuma esperança com isto como negócio, isto me dará algo para fazer.” Ele continua, “Os livros não irão em frente ainda, desde que pareço ter perdido todo desejo para escrever sobre Fé…” e preferia a bastante tênue esperança de escrever uma novela para a televisão, que poderia lhe render £300. “Estamos pensando em voltar para Londres – meio que para cair fora desta casa que tem muitas recordações infelizes para nós agora… Obrigado por dizer que eu tenho algum poder pessoal – eu me sinto achatado como uma panqueca atualmente, e não poderia levantar a energia para esmagar ou influenciar uma mosca. Contudo a infelicidade sempre me causa isso, de seguir assim, especialmente quando existe muito pouca ou nenhuma esperança para o futuro” (ibid.) Embora essa carta não seja datada, fica claro que é uma carta tardia. A referência ao trabalho de adivinho indica que Bowers estava fora do trabalho e Valiente também declara que seus empregadores o colocaram sob licença médica (1989:133), mas parece que aqui o casamento ainda estava intacto.

Durante os primeiros meses de 1966, Valiente ficou sabendo através de Justine Glass (a jornalista Enid Corrall), que Bowers estava contando aos seus seguidores sobre sua intenção de cometer suicídio no Solstício de Verão. Essa ameaça não foi levada muito seriamente, e Glass, também desiludida com Bowers, dissipou essa idéia com “É só conversa do Robert.” Valiente ficou preocupada com as ameaças, porque mesmo que vazias, poderiam acarretar alguma desventura, embora fosse dito que Bowers estava alegre e continuava seu contato com os amigos. (1989: 133)

Em retrospectiva, podemos ver este potencial fatal pressagiado por uma subcorrente sombria na correspondência de Bowers. No curso de uma carta a Joe Wilson, em abril de 1966, Bowers ofereceu a sua versão da “Lei das Bruxas”: “Não faça o que você deseja – faça o que é necessário”. “Tome tudo que receber – dê tudo de si”. “O que eu tenho – eu mantenho.”. “Quando todo o resto está perdido, e não antes disso, prepare-se para morrer com dignidade.” (2002: 50) Para ambos, William Grey e Norman Gills, Bowers citou as tristes linhas do que ele chamou de “a velha canção” e a “canção da bruxa”, mas que mais soava como um verso que ele compusera e que estava ansioso para mostrar a seus amigos: “Lá vocês e eu, meus amores/ Lá vocês e eu vamos nos deitar,/ Quando a cruz da ressurreição estiver quebrada,/ e nossa hora de morrer for chegada,/ Nunca mais haverá o choro,/Nunca mais haverá a morte/Só o dourado pôr do sol/Só o dourado descanso.”[5] Uma nota definitiva de presságio é atingida em uma carta de Bowers a Norman Gills, escrita por volta de março de 1966, que se conclui assim: “Quando vier o tempo, passe isto e as outras coisas que discutimos, para o Sr. [Joe] Wilson, a quem, receio, não verei.”[6] Aproximadamente ao mesmo tempo, em abril de 1966,  ele predisse em uma carta para Wilson que um jovem bruxo americano estaria visitando-o na Inglaterra dentro de um ano. (2002: 54)

Apesar de tudo, uma carta anterior acabara de mencionar que Bowers podia aconselhar Wilson: “Nunca seja como eu fui até pouco tempo, arrogante no conhecimento do poder, pois Ela logo me apanhou, e me trouxe para casa montado em meu cavalo negro, e eu, estou como os cavaleiros de antigamente se deitavam feridos, sem esperança.” (2002: 44) Esta advertência sugere o fim próximo; entre a turbulência mágica, sentimental e política em sua vida, Bowers refletiu e se arrependeu de suas falhas – estas últimas cartas a Wilson estão repletas de sentimentos mornos e compassivos. Valiente também se refere a uma carta conciliatória que ela recebeu dele, possivelmente durante essas semanas. (1989: 134) Em sua precária situação, Bowers mantinha a sua devoção para “Deusa Branca”, ao escrever para Wilson: “Em Seu amor (isso é uma coisa dura de se dizer) existe a morte – e Ela quebra Seus poetas/amantes antes de finalmente torná-los sábios… Ela é Destino, a Criadora [sic] e a Destruidora. Você entenderá por que Ela destrói, mas a destruição trará sua própria tristeza. Como a Deusa de Amor, Ela nos faz humildes em algum momento – e aquela tristeza é talvez o Seu maior presente para o poeta atingido pela lua.” (2002: 43) Contudo, Bowers não percebia que um golpe adicional e decisivo estava para iniciar a fase final de sua vida.

Fim de Jogo

Os problemas do casamento de Bowers culminaram na quarta-feira, 11 maio, quando sua esposa Jane deixou a casa da família com seu filho de nove anos, aparentemente para um endereço em Londres, próximo a Goodge Street. De acordo com o seu depoimento, Bowers escreveu duas cartas para ela durante as semanas subseqüentes, e às quais ela não respondeu. Bowers fez visitas ao seu médico, Dr. Lewis Johnman, em 19 e 30 de maio e em 1 de junho, parecendo angustiado por causa da partida da esposa, e em cada uma dessas ocasiões ele prescreveu Librium como um sedativo para ajudá-lo a dormir. Essa droga, como uma das novas benzodiazepam, foi regularmente prescrita como um antidepressivo ou, por causa de sua alta limitação por overdose, como um comprimido para dormir – especificamente para pacientes que poderiam tirar suas próprias vidas com os barbitúricos mais antigos. Infelizmente Bowers não os usou como eles deveriam ser usados, mas ao invés disso os armazenou como se fossem componentes vitais de seu plano.

Valiente conta que Bowers fez uma visita a Londres e se encontrou com membros do Clã em um pub no sábado anterior ao Solstício de Verão (isto é, 18 de junho), pareceu estar em bom espírito e não lhes deu nenhum motivo para preocupação, organizando outra reunião para o sábado seguinte. (1989:135) Essa informação parece estar incorreta, desde que de acordo com Evan John Jones uma reunião muito mais portentosa ocorreu. Ele escreve que Bowers visitou a ele e sua esposa em sua casa em Londres no domingo (19 de junho), onde eles se juntaram com outros dois outros membros do Clã, compartilharam uma refeição e foram para casa por volta das sete da noite. “Uma das coisas que ficaram na minha mente foi o jeito como ele disse que ‘o futuro dele estava no colo da Deusa’. Uma outra coisa com a qual ele parecia estar estressado era que ele estaria conosco para uma data importante, mas não em corpo, e que ele estaria ‘caçando do Outro Lado’. Não muito tempo depois de dizer isto, ele saiu.” Jones também afirmou que “existia algum elemento religioso em sua morte”[7].(1990: 16-17)

O conceito do Rei Divino como sacrifício de Solstício de Verão, desenvolvido pelo livro de Frazer em The Golden Bough através dos trabalhos de seu discípulo Jessie Weston, Margaret Murray, e Robert Graves exerceram uma poderosa influência na mitologia pessoal de Bowers e conseqüentemente nos rituais e teologia do Clã. Em seu artigo à Psychic News, Bowers alegou, com o público de leitores espiritualistas cristãos em mente: “O conceito de um deus sacrificial não era novo no mundo antigo, não é novo para um bruxo… James, eu obviamente tive boas razões para temer bruxos. A teologia da bruxa daquele período exigia que ele devesse morrer desde que ele descendia de uma linha de ‘reis divinos’. Os ‘reis divinos’, em teoria, de qualquer modo morriam pelos pecados de seus súditos e se interpunham entre o homem e o risco do mal”[8] Podemos ver este conceito refletido na proeminência que a obra de Bowers deu a certos motivos envolvendo a deusa-bruxa como a “Morte”, e a deusa como “Destino”, musa traiçoeira do verdadeiro poeta. Bowers seguiu Graves ao afirmar que o poeta é um brinquedo dispensável da Deusa Branca – um “poeta maldito” no completo sentido Romântico. Em seu trato do Clã em Western Inner Workings, baseado em contato pessoal, William Grey escreveu a respeito da responsabilidade de seu Magister“Seu dever solene foi de tomar os males de outros, se eles estivessem intimamente conectados com o clã, sozinho, em seus próprios ombros. Se fosse necessário, ele poderia ter que morrer em nome de seu povo, como os velhos Reis Sagrados” (1983:144). “Solstício de Verão é a minha grande noite, ou o mais próximo quanto posso chegar disso” Bowers escreveu a Grey em uma discussão sobre um ritual – e então isso se provaria. (2002: 117).

As festividades do Solstício de Verão acontecem tradicionalmente na noite e noite de 23 de junho, e foi na quinta-feira 23 de junho de 1966 que Roy Bowers consumiu uma mistura de venenos – por conta própria – que consistia em Beladona, Librium e Heléboro. Sabemos disso porque ele escreveu uma carta explicando suas ações e endereçou-a ao investigador. Com esta potente combinação de toxinas, esperava-se que Bowers morreria depressa – e que ele deve ter pensado que isso tudo aconteceria em algumas horas. Talvez a maior tragédia tenha sido o fato de que ele foi contrariado até nessa esperança.

Na manhã seguinte, os advogados de Jane Bowers receberam uma carta de Roy informando suas intenções suicidas; eles alertaram a polícia e dois oficiais foram enviados para a casa. P.C. Albert Russell e seu colega encontraram as portas trancadas, mas através de uma janela do andar térreo atrás da casa, a figura de Bowers podia ser vista, deitado em um saco de dormir no canapé, vivo, mas profundamente letárgico. Ele foi levado por uma ambulância para o hospital local onde permaneceu em coma por nove dias. Ele morreu às 5h30 da manhã de domingo, 3 de julho de 1966, no Wexham Park Hospital, sem recobrar a consciência. [9] O Inquérito do magistrado foi feito no dia seguinte, no qual P.C. Russell fez uma declaração sobre encontrar Bowers, mas os autos foram adiados até 22 de julho, quando todas as evidências foram reunidas. Uma pequena notícia apareceu na página 13 do jornal semanal Slough Observer, na sexta-feira 8 julho, sob o título: “Artist Dies From Overdose”. Esta nota o reportou como “artista comercial e pintor abstrato”, dizendo que Roy Leonard Bowers morrera no hospital de uma overdose de comprimidos, que sua esposa partira há mais ou menos dois meses atrás com seu filho e que a família vivera em Britwell por mais ou menos sete anos. [10]

Algum tempo depois do Solstício de Verão, Doreen Valiente retornou de uma estadia no hospital para encontrar uma carta de Bowers informando-a de que quando ela lesse aquilo, ele já estaria morto. Ela imediatamente contatou os amigos que originalmente colocaram o dois em contato e descobriu que era verdade. (1989: 134-5) O funeral de Roy Bowers foi realizado na quarta-feira, 13 julho de 1966.

Inquérito

O magistrado, Sr. Percy Nickson, presidiu o inquérito adequado na Delegacia de Polícia de Burnham às 16h30, na sexta-feira, 22 de julho. Os registros do inquérito não são abertos à inspeção pública, assim confiamos nos relatórios de dois jornalistas que freqüentaram o inquérito, publicados nos jornais locais The Windsor, Slough & Eton Express e, com maiores detalhes, o Slough Observer na sexta-feira,
29 de julho de 1966 – estes apareceram na semana seguinte porque o inquérito foi realizado na sexta-feira à tarde. [11]

P.C. Russell resumiu sua história sobre encontrar Bowers em casa depois de ser contatado pelos advogados. Ele reportou que depois que a ambulância havia saído, tinha encontrado um frasco vazio marcado como Librium ao lado da lata de lixo, e em uma visita posterior, notou as plantas de Beladona crescendo selvagens atrás do jardim.

O Dr. Lewis Johnman deu testemunho sobre as três visitas de Bowers a ele no fim de maio e início de junho, deprimido com a partida da sua esposa, mas não dando nenhuma indicação do intento suicida. Johnman identificou algumas cápsulas vazias descobertas na lata de lixo como o Librium ele prescrevera, mas declarou: “Você teria que tomar uma grande quantidade delas para fazer qualquer mal.” O uso de como sedativo para pacientes que sofrem de stress também foi confirmado pelo patologista Dr. Francis Scott, que conduziu o post-mortem. Ele encontrou sinais de atropina e Librium, mas não analisou o conteúdo do estômago, porque os venenos teriam sido eliminados durante os nove dias em que Bowers ficara no hospital. Dr. Scott deu como causa da morte a congestão dos pulmões e falência do coração, consistente com envenenamento de Beladona. [12]

A esposa de Bowers, Jane, confirmou que identificara seu corpo, e disse que o casal havia se separado em 11 de maio. E embora seu marido lhe enviasse duas cartas, ela não havia tido contato com ele. Jane também declarou que ele sofria de colapso nervoso a uns cinco anos, que freqüentemente ficava deprimido e falava sobre suicídio. O magistrado, muito compadecido, disse à Jane, “O que quer que tenha acontecido entre você e seu marido é de natureza privada e doméstica, no que eu não gostaria de tocar. Portanto, não devo fazer qualquer referência às razões que danificaram as suas relações mútuas.”

Em sua recapitulação, o Sr. Nickson concluiu que só era possível imaginar que Bowers deve de fato ter tomado a “Deadly Nightshde” (Erva-Moura), porque nenhum rastro de Librium ou de Beladona havia sido encontrado. Não obstante, os sinais eram consistentes com os efeitos destas drogas. Sr. Nickson afirmou que as alegações de Bowers de ter tomado Heléboro eram possíveis, porque suas toxinas são encontradas nos rizomas e raízes de membros da família Buttercup (Botão-de-ouro), e flores desse tipo haviam sido encontradas próximas à Beladona no jardim de Bowers.

O registro do veredicto consta como “suicídio enquanto o equilíbrio mental estava perturbado”, o magistrado comentou, “não existe nenhuma dúvida em minha mente que este homem pôs toda a sua concentração e energia na destruição deliberada de si próprio”. Para enfatizar o ponto, ele leu em voz alta alguns extratos da carta que Bowers escreveu para ele, aparentemente depois de tomar a overdose, no caso de encontrá-lo em casa; o tom pareceu efetivo e formal, embora um breve flash do estilo em arco que caracterizava sua escrita aparecesse no final. Nele Bowers se referiu a deserção súbita de sua esposa e declarou: “Este foi um suicídio cuidadosamente preparado. Foi uma mistura de Beladona e Heléboro – substância de sabor horrível – e uma dose de pílulas para dormir para evitar os movimentos, puxões, ações e todo o resto, de meus músculos causados pela alta quantidade de atropina na Beladona…Isto é para indicar, entretanto que deve ser sua opinião, que tirei minha própria vida enquanto de mente sã.”

A morte de Bowers foi propriamente registrada em 28 de julho, a causa da morte foi dada como “Congestão Pulmonar e edema, com falência renal devido a envenenamento por Beladona – Suicídio.” A bruxaria não pôde ser mencionada no inquérito, caso contrário, ambos os jornais, locais e nacionais poderiam ter se agarrado nisto, embora ela pareça ter vindo para dentro do âmbito de investigação policial – Evan John Jones relata que a polícia interrogou alguns dos que trabalhavam ativamente com Bowers, mas estes alegaram que participavam somente como observadores. (1990:17) De acordo com o Michael Howard, os parentes queimaram muitos dos documentos de Bowers – isso teria assegurado que eles não cairiam nas mãos da polícia, a qual teve acesso à casa vazia durante sua investigação (2002:13). Foi dado a entender que os documentos foram destruídos pelo irmão de Roy Bowers, agora falecido. Nenhuma lápide foi erguida no sepulcro de Bowers, que permanece até hoje como um pequeno pedaço de terra, marcado com pedras de meio-fio entre os outros sepulcros. Dado seu carinho aos enigmas e ao místico, isto parece, de certo modo, muito apropriado.

Em suma

A combinação de drogas que Bowers tomou refletia o seu conhecimento e experiência com venenos de plantas e parecem perfeitamente calculados para provocar inconsciência seguida de falência respiratória e cardíaca. Librium também teria servido para frustrar os efeitos físicos, como o vômito. Heléboro contém a ambos: um poderoso narcótico, e um veneno cardíaco similar em ação à digitalina. Dos efeitos da Beladona e a história de seu uso na bruxaria pouco é necessário ser dito – eles são bem conhecidos ou podem ser facilmente pesquisados. A planta contém um complexo de alcalóides em todas as partes, principalmente atropina, um veneno potencialmente letal cuja tolerância individual varia amplamente, e assim também funcionam a hiosciamina, hioscina e escopolamina. Tem sido empregada como um agente visionário em minúsculas quantidades, com extrema precaução e respeito. Bowers era um usuário experiente da erva, que ele introduziu nos rituais do Clã. Ele fez referência pública cautelosa ao uso de venenos herbais em sua contribuição a Justine Glass em Witchcraft, the Sixth Sense – and Us, advertindo, “…não podemos nos cansar de reforçar que, nas mãos do ignorante ou do tolo, tais métodos são o caminho rápido para os subterrâneos da insanidade.” (1965:144) Valiente alegou: “eu costumava dizer a ele que, pessoalmente, prefiro conseguir meu chá do mercado a beber qualquer infusão que ele oferecesse a mim, então o uso de tais coisas não surgiu quando eu estava trabalhando com ele.” (1989: 133) Ela continua, ao mencionar uma conta de boatos que sugeriam que em sua crise final, Bowers abusara de sua autoridade de Magister, incluindo uma atitude crescentemente cavalheiresca à Beladona, enquanto tomava a reputação de ter dado uma grande overdose a um casal, ao qual ele realizava um handfasting.[13] (ibid)

Valiente especula que o suicídio de Bowers poderia ter sido uma proeza em busca de atenção e não pretendia ser fatal. (1989: 135) Isto seria possível, se ele tomasse uma quantidade menor de drogas do que a carta ao investigador indicava, e enviado cartas suficientes para assegurar que pelo menos um dos destinatários daria o sinal de alarme a tempo. Ele teria tido uma boa idéia de sua suscetibilidade à Beladona, e como o patologista não podia confirmar a presença de Heléboro não existe nenhuma firme evidência de que ele tenha tomado isso. Bowers escreveu para os advogados de sua esposa, para Doreen Valiente, e muito provavelmente para outras pessoas. Penso que ele se certificaria de que sua alienada esposa fosse informada. Não é, contudo, necessário assumir que as cartas foram “temporizadas” para dar o sinal de alarme; ao se remeter cartas a endereços no sul da Inglaterra a entrega seria no dia seguinte, e então as cartas postadas em 22 de junho teriam chamado a polícia antes do evento, enquanto que se postadas até o final da tarde do dia 23, eles teriam chegado na manhã seguinte, como fez a carta aos advogados.

Valiente não deu a data na qual sua carta foi enviada ou entregue, nem quando ela a leu e respondeu; sem essas informações, maiores especulações são impossíveis. Tais cartas podiam ser visualizadas como um esforço para maximizar o choque emocional de suas ações sobre aqueles que ele sentia que o traíram, e a carta conciliatória a Valiente então, vista como um movimento de “suavização” antes do evento – alternativamente ele poderia ter confirmando que ela ainda estava no mesmo endereço. Isso é conjectura, mas uma interpretação a ser considerada, apesar de tudo. Não sabemos o conteúdo destas cartas, mas tipicamente cartas de suicídio são simplesmente informativas, como foi a nota de Bowers ao investigador, freqüentemente apologético e absolvendo o destinatário de qualquer responsabilidade.

Considerando a severidade da overdose, as cartas que ele escreveu, e as insinuações e claras declarações de intento aos amigos e correspondentes nas semanas precedentes, a morte de Bowers aparece como bem planejada e, poderia se dizer, um suicídio firmemente empreendido. Suas ações certamente não combinam com o padrão de “overdose - grito por ajuda”, que normalmente envolve uma quantidade mínima de drogas prescritas, seguidas de um telefonema para chamar por ajuda, ou apresentação em um pronto-socorro. Nem ler este evento como se fosse uma ordália ou teste é plausível, uma possibilidade que Valiente levanta, aparentemente citando um rumor em circulação. (1989: 135)

Qualquer consideração a Bowers e seu destino precisa acomodar o fato que o trabalho pelo qual ele é relembrado foi agrupado num pequeno espaço de tempo de poucos anos. Este trânsito meteórico, sua aspiração poética e a maneira em que ele morreu nos fazem lembrar de certas figuras do movimento Romântico e os Decadentes fin-de-siécle, enquanto prefigura a série de mortes de músicos que aconteceria dentro de alguns anos. Desconsiderando a verdade, ou o caso contrário de suas alegações de proveniência, esta linhagem Romântica está certamente no âmbito de Bowers e a tragédia, pode-se dizer, fez com que ele ganhasse uma posição ilustre.

Qualquer que seja o espírito em que Roy Bowers tenha partido para sua morte, parece claramente ter sido uma resposta ao impasse no qual ele havia entrado através de sua liderança no Clan of Tubal Cain. Uma opção de escape, que era totalmente congruente com suas crenças e mito pessoal, e como o tempo provou, a sua forma de garantir a lenda e fama que lhe escaparam em vida.

Fontes (cronologicamente)

Bowers, Roy ‘Genuine witchcraft is defended’, Psychic News, 9 de Novembro de 1963, página. 5.
‘Witches’ Esbat’, New Dimensions Vol. 2 No. 10, Novembro de 1964.
‘The Craft Today’, Pentagram, número 2, Novembro de 1964.
‘On Cords’, Pentagram, número 3, Março de 1965.
‘The Faith of the Wise’, Pentagram número 4, Agosto de 1965.
Glass, Justine (Enid Corrall), Witchcraft, the Sixth Sense – and Us, Neville Spearman, 1965.
‘Artist Dies from Overdose’, Slough Observer, 8 de Julho de 1966, página 13.
Certidão de Óbito de Roy Leonard Bowers, registrado em 28 de Julho de 1966.
‘Britwell Man's Suicide After Wife Left Home’, The Windsor, Slough & Eton Express, 29 de Julho de 1966, página 14.
‘Killed Himself With “Deadly Nightshade” From The Garden’, Slough Observer, 29 de Julho de 1966, pág 5.
‘Midsummer Ritual text (The Regency)’, à máquina, sem data, mas marcado 1967-8.
Gray, William, Western Inner Workings, Samuel Weiser (USA), 1983.
Valiente, Doreen, The Rebirth of Witchcraft, capítulo 8 ‘Robert Cochrane – Magister’, Robert Hale, 1989.
Jones, Evan John e Valiente, Doreen, Witchcraft: A Tradition Renewed, Robert Hale, 1990.
Cópias das cartas circuladas privativamente de Robert Cochrane, 1993.
Cartas de Robert Cochrane do site http://www.1734.us/roy.html (Joe Wilson), 2001.
Cochrane, Robert (Roy Bowers) com Jones, Evan John, ed. Michael Howard, The Letters of Robert Cochrane, Capall Bann, 2002.
Informações de indivíduos, em privado, 2004.

Agradecimentos

O autor deseja agradecer Stuart Inman, Astrid Bauer, Jack Daw, Alex Bennett, Clive Harper, Jacobus Swart e Antonia Grey pelas suas generosas ajudas na preparação deste ensaio; E Michael Howard, Andrew Chumbley e o falecido Joe Wilson por apresentá-lo ao trabalho de Bowers. Também a Astrid Bauer pela fotografia da sepulture de Roy Bowers usada na edição impressa original.

Copyright © Gavin W. Semple 2004, aqui publicado sob permissão.

Gavin Semple publicou monografias e artigos sobre Austin Osman Spare e outros assuntos, e é cofundador da Fulgur Limited publicando com Robert Ansell. Para mais informações, visitem www.fulgur.org ou escrevem para BCM: Fulgur, Londres WC1N 3XX.
Fonte da tradução: http://www.clanoftubalcain.org.uk/A_Poisoned_Chalice.pdf, por Katy de Mattos Frisvold.


[1] A carta de Bowers a William Grey de 27 de maio de 1964 indica que ele ainda não havia conhecido
Valiente. (2002:91)
[2] A atitude é sublinhada por uma carta a Norman Gills, em que Bowers promete, “…quando o pessoal do
Clã chegar a ouvir sobre isto, John já estará banido – disso eu estou certo – e você também sabe, assim como eu, existe terror e morte nisso.” (2002: 173) O homem a quem ele se refere divulgara a identidade de Taliesin aos seguidores de Gardner. Taliesin era espião de Bowers no campo Wiccano, e possivelmente, a pessoa trouxe mais danos à causa de Bowers com seus comentários inflamados no Pentagram. Bowers confiou a William Grey uma precedente propensão à agressão: “…violência, morte e destruição me possuíram, e eu era uma ameaça ambulante a todos. Se não fosse pela minha amada J.[Jane] eu teria eventualmente me emaranhado realmente com a Lei e teria tombado lutando ao invés de ser tomado prisioneiro.” (2002: 67-8) Este aspecto de seu caráter parece, no final das contas, ter determinado seu destino.
[3] Valiente:1989, pág. 129. Este era o nome que Hitler usou para a noite do expurgo brutal feito pelo Sturm Abteilung aos judeus em junho de 1934, que assegurava a liderança do SS de Himmler. A observação de Bowers delineou um desagradável paralelo entre o dois paramilitares nazistas rivais, e os covens guiados por Gardner e ele mesmo.
[4] “A.” é, aparentemente, uma referência à mulher com quem Bowers havia começado um affair, que estava neste ponto terminado. (1989:129, 1990:16) Seu comentário de que ele estava trabalhando sozinho sugere que a relação mágica existente há muito com sua esposa também vacilava.
[5] “There you and I my loves/ There you and I will lie,/ When the cross of resurrection is  broken,/ And our  time has come to die,/ For no more is there weeping,/ For no more is  there death,/ Only the golden sunset,/ Only the golden rest.” (2002:124-5,150)
[6] Joe Wilson que conhecia muito bem Norman Gills e que possuía a carta, atribuiu a data e sua transcrição que podem ser lidas no endereço: http://www.1734.us/norman03.html (2004). A sentença mencionada não foi inclusa na versão publicada na edição de Jones/Howard do livro The Robert Cochrane Letters (2002: 156-9).
[7] Existe uma disparidade muito peculiar entre a versão de Jones e os fatos do evento, talvez devido ao efeito do choque em sua memória: ele alega que Bowers o visitou na véspera de sua morte, tomou a overdose na segunda-feira (20 de junho), foi encontrado pelos vizinhos no jardim, e morreu três dias mais tarde.
[8] Em seu estudo das fontes literárias de Bowers, o falecido Francis Blackman sugeriu que o apelido de Bowers, “Robert Cochrane”, era um nome metafórico ao “Cock Robin”, como um totem do Rei Divino. As referências à rima infantil “Who Killed Cock Robin” foram mais tarde usadas dentro deste contexto em um ritual de Solstício de Verão do coven The Regency. O arquiteto do grande hall do Stirling Castle (Século XV), favorito de Rei James III (1451-1488) foi um homem chamado Robert Cochrane, feito Conde de Mar pelo Rei, Cochrane sofreu uma conspiração do ciumento Conde de Angus e foi enforcado “à vista de seu mestre real.” Sua biografia foi publicada em Londres, em 1734.
[9] Conforme a Certidão de óbito e a edição do Slough Observer, 29 de julho, 1966.
[10] Bowers descreveu seu trabalho para Norman Gills como ‘tipografo’ (matrix letter drawer). (2002: 146) e sua certidão de óbito diz ‘tipógrafo’. Ele trabalhou para uma empresa que imprimia cabeçalhos - a matriz é uma punção de cobre de onde o tipo é colocado. O “pintor abstrato” pode ter sido uma referência ao mural de Bowers, que todos sabiam que ele havia começado a trabalhar na parede de sua sala, provavelmente durante as semanas quando ele havia sido abandonado pela família, sem um trabalho e sozinho em casa. Possivelmente, se ele contivesse simbolismo mágico, poderia ter sido explicado para ou pela polícia como “abstrata” – embora seu humor no momento possa ter produzido não mais do que um rabisco psicótico. Infelizmente não é de conhecimento sobre o que essa pintura retratava – um testamento final expresso em puro símbolo poderia, talvez, caber a um poeta-bruxo.
[11] O The Windsor, Slough & Eton Express cita erroneamente o nome de Bowers como “Arthur William Bowers”.
[12] O Slough Observer está aqui em discrepância com a causa da morte e publicada na certidão de óbito de Bowers.
[13] Foi discutido que o uso freqüente de Beladona afetara a sanidade mental de Bowers. Isso talvez possa ser interpretado nos relatos de Valiente. (1989:133) Porém, existem evidências de que Bowers considerava o transe induzido pela Beladona como um componente essencial no mistério da “Grande Deusa” e procurou colocá-la em um contexto sagrado. Sobre o assunto do compromisso ritual com tropano-alcalóides, ele disse a Norman Gills: “No passado eles tinham instruções muito cuidadosas e colocaram sinais para ajudar a congregação a passar através das dificuldades. Hoje muitas daquelas instruções foram perdidas. Parece ser o trabalho de minha própria vida redescobri-los.” (2002:154) Uma correspondência pode ser feita entre o potencial bi-polar da ‘bela dama’ Beladona, uma erva silvestre, tóxica e letal, e o papel semelhantemente ambivalente da Deusa Branca, como a crucial Musa do poeta Robert Graves. É improvável que este paralelo não fosse notado por Bowers.

Nota: É aqui onde reside a diferença entre fato e ficção.

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